sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Pedra Preciosa

Esmeralda é uma mulher iluminada, simples e que caminha nos trinques. Que permeia o meu, o seu e outros cotidianos. Moça “fatiada”. De segunda a sábado multiplica-se pelo lar, curso e trabalho. Mais ou menos nessa ordem. Nos caminhos e lotações da vida, divaga sobre o homem dos seus sonhos. Aquele descrito de cabo a rabo para as amigas. Inteligente, bonito, amigo, maduro, organizado e respeitador. É também aquele que parece não existir. Logo a viagem segue, Esmeralda esquece, pluga os fones e flutua ao som de “Vai tomar dormindo”.

O curioso é que o cavalheiro descrito anteriormente vive no imaginário de mulheres incontáveis. Entretanto, apenas uma quantidade numerável possui e, é possuída pelo seu. Mas, Esmeralda ainda não foi contemplada. Em vista disso, ela se valoriza para navegar nas alturas. Todo sábado antes da balada, a preciosa se exibe na frente do espelho. Na ordem. Altura acima da média, lábios astutos, pele marrom chokito, olhar jamelão e o cabelo azaleia à mercê do vento. Além disso, o vestido tomara que caia lilás se encaixa ao gingado perfeitamente. Tudo embalado pela canção “Eu vou distribuir”. Que é mais ou menos assim: - Você quer meu corpinho? Não precisa insistir. Hoje eu não vou dar, eu vou distribuir. O telefone toca e a música cessa.

Esmeralda: Alô.
Amiga: Oi, vaca. Eu e os meninos já estamos aqui embaixo te esperando
Esmeralda: Ok. Já estou descendo.
Amiga: Não demora. Beijo, piranha.  

Ela dá a última olhadela no espelho, se apressa, encontra o pessoal e todos chegam ao destino. Para alguns, apenas uma casa de shows, para outros, “Sodoma e Gomorra”. E não demora muito para Esmeralda se perder em meio à multidão. Começa o aquecimento, ela rebola, no entanto, esconde o melhor. Em seguida, coloca a mão no joelho, agacha, rebola mais forte e canta junto:

 - Eu vou dormir lá em baixo, na casa dos machos. Pode ter certeza que lá eu me acho. Verdadeiro cabaré é só curtição.

A partir daí, os homens começam a valorizar a preciosidade. O primeiro puxa o cabelo, o segundo segura pelo braço, o terceiro roça, o quarto passa a mão e o quinto engravata e afana um beijo... A adrenalina sobe e o perigo desperta uma sensação de poder indescritível. No final, um longo caminho de volta para casa, com o cabelo desgrenhado, maquiagem borrada, braço roxo e a boca amarga. No ônibus, o cansaço bate e a abóbora dorme num ombro desconhecido. Visualiza... Divaga... Fantasia... Imagina... Que descansa nos braços do seu príncipe. (Paulo Roberto Ribeiro)
 

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